Dormentes  são as peças retangulares colocadas transversalmente à via férrea e sobre as quais os trilhos se assentam, e são fixados, este item tem como objetivo receber e transmitir ao lastro os esforços de flexão, produzidos em decorrência da circulação do material rodante. Também é responsável por não permitir que a bitola se alargue, ou seja, mantem a bitola em seu tamanho padrão.

Os dormentes podem ser produzidos de vários materiais, sendo os mais comuns, o dormente de madeira, dormente de aço, dormente de concreto e o dormente de polímeros (vulgarmente plástico).

Dentre todos os tipos de dormente, o de madeira tem destaque, pois o mesmo contempla quase todas as características exigidas para o dormente ideal, sendo estes, resistência (Permitam uma fixação firme do trilho), durabilidade (Resistente aos esforços, fixações e intempéries), peso reduzido (para movimentação e manutenção em processos logísticos), facilitar a drenagem, permitir uma fácil correção de perfil (Serragem) e fixação (aplicação de itens de fixação) e facilite o processo de nivelamento e socaria.

Os dormentes de madeira têm sido substituídos aos poucos pelos dormentes de aço, pois devido às questões ambientais, o uso de dormentes de madeira tem sido reduzido.

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Em trechos com bitola larga (1,6m) os dormentes são mais compridos e robustos, em decorrência das cargas mais elevadas, quando comparados com o de bitola estreita (1m).

Dormente (http://www.prema.com.br/dormentes/)

Tipos de Dormentes:

Será especificado agora de forma mais direta os tipos de dormentes e suas peculiaridades:

Dormente de Madeira:

Conforme supracitado, o dormente de madeira reúne quase todas as qualidades exigidas para um dormente ideal, sendo principal e mais utilizado dormente nas ferrovias do Brasil.

Os dormentes de madeira têm sido substituídos pelos dormentes de concreto e aço pela questão socioambiental brasileira, os índices de reflorestamento são deficitários e há certa dificuldade em captar madeira de lei em locais naturais.

A madeira ideal para se tornar um dormente deve ser colhida viva e em meses secos. Logicamente deve estar isenta de fungos e rachaduras.

O dormente poderá ser serrado ou lavrado em suas extremidades, sendo permitido aprofundamentos em variações da superfície em até 15 mm.

A durabilidade deste dormente está diretamente conectada aos seguintes fatores:

  • Clima;
  • Hidrologia;
  • Características do material rodante;
  • Época da colheita da madeira;
  • Nível absorção;
  • Tipo de fixação;
  • Modelo do lastro.

Vantagens deste Dormente:

  • Peso leve;
  • Fácil manuseio;
  • Serragem facilitada;
  • Possui valor residual;
  • Resistente aos resíduos industriais;
  • Resistentes aos processos logísticos na manutenção.

Desvantagens deste Dormente:

  • Suscetíveis aos fungos, insetos e ao fogo;
  • Permite, em certo prazo, a abertura da bitola e afrouxamento das fixações;
  • Maiores exigências para tratamentos químicos;
  • Protegidos por órgãos ambientais.

Zona de Fixação:

Abaixo estabeleceremos as zonas de fixação do trilho ideias para os dormentes de madeiras variando de acordo com os dormentes para bitola larga e estreita.

Para Bitola Larga (1,6m):

  • Deve ser fixada de 50 cm a 60 cm do centro do dormente.

Para Bitola Estreita (1m):

  • Deve ser fixada de 35 cm a 40 cm do centro do dormente.

Dormente de Aço:

O dormente de aço padrão geralmente tem formato de “U”. É considerado um dormente de material de produção misto, aço e brita.

Vantagens deste Dormente:

  • Leve;
  • Homogêneo;
  • Longa vida;
  • Boa resistência.

Desvantagens deste Dormente:

  • Dificuldade para socaria;
  • Dificuldade para nivelamento;
  • Conduz energia elétrica;
  • Preço de produção.

Quanto às Dimensões Estipuladas por Norma:

  • Bitola de 1,6 m: 2,80 x 0,24 x 0,17 (comprimento, largura e altura em metro);
  • Bitola de 1 m: 2m x 0,22 x 0,16 (comprimento, largura e altura em metro).

A tolerância permitida é de 5 cm para comprimento, 2 cm para largura e 1 cm para altura.

Tratamentos Químicos Para Dormentes de Madeira:

Este processo tem por objetivo tornar o material (dormente de madeira) tóxico aos elementos biológicos, e podem ser através de preservativos oleosos e hidrossolúveis.

Dormente de Concreto:

Este tipo de dormente tem sido o preferido para o transporte de passageiros, ou em ferrovias “leves”, porém para ferrovia de carga, ferrovias pesadas, ela apresenta algumas desvantagens custosas e que apresentam alto risco, como o trincamento.

O concreto e o aço (base interna) deve obedecer a todas as especificações técnicas para a perfeita produção deste tipo de dormente.

Vantagens deste Dormente:

  • Longa vida útil (se não ocorrer acidentes);
  • Estabilidade;
  • Boa Resistência a intempéries;
  • Uniformidade de homogeneidade;
  • Baixo custo na manutenção.

Desvantagens deste Dormente:

  • Alto peso;
  • Necessidade de maquinário específico;
  • Dificuldade de transporte;
  • Produção altamente apurada;
  • Dificuldade de fixação;
  • Alto nível de lastro;
  • Perda total em caso de acidentes.

Dormente de Polímero (Vulgo “plástico”):

Podem ser produzidos a partir de materiais reciclados ou a partir de fontes oriundos do petróleo. Possuem formato próximo ao de madeira e podem ser combinado com esses na via.

Vantagens deste Dormente:

  • Longa vida útil (50 anos em média);
  • O mais leve dos modelos apresentados até o momento;
  • Não racha;
  • Não trinta;
  • Não conduz energia elétrica;
  • Mantem permanente as propriedades físicas (dimensões);
  • Fixação padrão;
  • Resistente a vibrações, intempéries e agentes biológicos.

Desvantagens deste Dormente:

  • Deteriora em contato com fogo ou elementos com alta temperatura;
  • Concorre diretamente com dormentes de madeira;
  • Matéria prima de fonte não renovável.

Taxa de Dormentação na Linha Principal:

Para Bitola Larga:

  • Quantidade por KM: 1667 a 1820 dormentes (cerca de: 1,66 a 1,82 dormentes por metro).
  • Espaçamento: 55 cm a 60 cm.

Para Bitola Estreita:

  • Quantidade por KM: 1667 dormentes (cerca de: 1,66 dormentes por metro)
  • Espaçamento: 60 cm.

Manutenção de Dormentes:

O primeiro estágio para a manutenção dos dormentes é a verificação de seu real estado de preservação, observando principalmente, condições físicas visuais, posição, e estado da fixação.

Esta verificação tem validade para todos os dormentes supracitados e comentados.

As verificações dos dormentes são:

  • Existência de trincas;
  • Existência de fendas;
  • Existência de rachaduras;
  • Destacamento de materiais.

Em caso de verificação destas anormalidades a forma de corrigir é adicionar o dormente ou trocar o dormente por um padrão.

Os seguintes parâmetros gerais podem ser identificados na via:

  • Dormentes queimados (por vandalismo ou efeitos do Material Rodante);
  • Dormentes partidos (por descarrilamento);
  • Falta de dormentes;
  • Empeno;
  • Rachadura;
  • Apodrecimento;
  • Existência de elementos biológicos no dormente (fungos e etc).

Em caso de verificação destas anormalidades a forma de corrigir é adicionar o dormente ou trocar o dormente por um padrão.

As verificações espaciais dos dormentes devem seguir os seguintes parâmetros:

  • Espaçamento entre dormentes, mantendo a taxa de dormentação;
  • Posicionamento giratório em relação a grade.

Estes desníveis podem ser corrigidos adequando a posição ao seu estado original e padrão.

Verificação referente à fixação:

  • Verificar placa de apoio (estabilidade sobre o dormente) e as furações e fixações dos acessórios de fixação (pregos ou tirefonds).
  • Verificar problemas na furação da fixação ou deformações nos acessórios.

A correção destas divergências devem ser realizadas através de uma nova furação e fixação (quando possível) ou substituir totalmente os elementos de via do local a receber a manutenção.

Uma substituição completa de dormentes inclui os seguintes passos:

1. Retirada Da Fixação;

2. Abertura Lateral Da Casa De Pedra;

3. Remoção Do Dormente Velho;

4. Inserção Do Dormente Novo;

5. Colocação Da Fixação;

6. Socaria Do Dormente;

7. Encaixe Do Ombro De Lastro.

Retirada da Fixação:

Com o uso da ferramenta ou máquina adequada deve ser feita a retirada completa das fixações do dormente.

Caso as mesmas possuam condições de reuso poderão ser empregadas outra vez no dormente novo.

Abertura Lateral da Casa de Pedra A remoção do ombro de pedra na cabeça do dormente é feita com o uso de picareta e garfo. Deve ser aberta, no mínimo, a seção necessária para a retirada do dormente sem a obstrução de pedras.

Remoção do Dormente Velho:

Caso o dormente ainda possa ser reempregado em outra linha ou mesmo virado para utilização da sua parte invertida, a sua remoção deve ser feita com cuidado, utilizando-se alavanca para empurrá-lo pela lateral para fora ao mesmo tempo em que é puxado com uma tenaz na outra extremidade. Se o dormente estiver totalmente inservível, poderá ser utilizada a ponta de uma picareta cravada em uma de suas cabeceiras para auxiliar no puxamento da peça para fora da casa.

Inserção do Dormente Novo:

A inserção do dormente novo deve acontecer posicionando-se o topo da peça na entrada da casa da via com o auxílio da tenaz de dormentes. Na sequência, a alavanca deve empurrar sua extremidade de forma que ele deslize livremente para baixo dos trilhos. Não deve ser usada marreta, picareta ou nenhuma ferramenta que danifique o dormente e que possa reduzir sua vida útil.

Colocação da Fixação:

Como o dormente está distante verticalmente dos trilhos pela abertura da casa, deve-se utilizar a alavanca para colar o dormente verticalmente, já com as placas de apoio e/ou palmilhas assentadas, até que sua face superior cole no trilho. Enquanto um operador segura o dormente, um segundo trabalhador aperta a fixação, utilizando ferramenta manual ou mecanizada. Esse passo é repetido para o lado contrário, fazendo o aperto da segunda pregação.

Caso a substituição dos dormentes esteja sendo feita a eito (de forma contínua) ou em uma alta taxa de troca, provavelmente a bitola no local também está sendo corrigida para um valor mais próximo do padrão.

Sendo a troca pontual para eliminação de alguma malha de inservíveis, deve-se tomar o cuidado para seguir a bitola dos dormentes vizinhos. Nesse caso, mesmo que exista uma bitola um pouco além do padrão, é preferível mantê-la a gerar um local com grande variação de bitola numa correção pontual, o que poderia levar a risco de descarrilamentos.

Socaria do Dormente:

Com o auxílio de uma ferramenta de soca ou equipamento mecanizado (socadora), é feita a inserção de pedras abaixo dos calos dos dormentes. Calos é a região diretamente abaixo da linha dos trilhos, responsável pelo apoio direto da grade.

A socaria deve ser feita sempre em forma de “X”, e primeiramente se soca numa direção e, na sequência, com menos energia, faz-se a socaria no sentido contrário.

O nivelamento do dormente nesta etapa é fundamental. Com o auxílio de uma régua de nivelamento deve ser feita a socaria com a superelevação que o local exige. O supervisor de via deve estar atento para que o levante dado para correção de qualquer desconformidade no local seja ou não necessário também nos dormentes vizinhos.

Encaixe do Ombro de Lastro:

Por fim, com o uso de uma pá ou um garfo (é preferível um garfo, pois a pá pode trazer consigo materiais finos indesejáveis), faz-se a reconformação do ombro de lastro, posicionando a pedra de forma trapezoidal na cabeça do dormente.

Reposicionamento De Dormentes

A movimentação longitudinal dos trilhos pode fazer com que ocorra mau posicionamento dos dormentes em virtude do seu arraste. Esse movimento pode gerar os serviços de reespaçamento ou quadramento dos dormentes, dependendo do grau de defeito que o dormente apresente.

Reespaçamento de Dormentes

No caso de reespaçamento diz-se que o dormente correu na direção longitudinal da via em ambas as fixações, fazendo com que o espaçamento entre eles tenha ficado maior em alguns pontos e menor em outros.

Sua correção deve ser feita seguindo os seguintes passos:

  1. Proceder a marcação do dormente de forma a adequar as distâncias com dormentes vizinhos;
  2. Desguarnecer parcialmente o lastro no lado a ser trabalhado;
  3. Remover os retensores (quando houver);
  4. Soltar as fixações do dormente;
  5. Deslocar na lateral o dormente com o auxílio de alavanca lisa até que o dormente fique perpendicular ao eixo da via e no local definido com antecedência;
  6. Fazer o reaperto das fixações;
  7. Recolocar e ajustar os retensores (quando houver);
  8. Voltar o lastro até a face superior do dormente, fazer socaria e acerto do perfil, obedecendo à largura do “ombro” e à inclinação de talude existente;
  9. Recolher material inservível.

Quadramento dos Dormentes

No caso do quadramento dos dormentes, o efeito do trilho acontece somente em uma de suas extremidades, causando a movimentação angular do mesmo. Da mesma forma que a correção para o reespaçamento, o quadramento exige uma sequência semelhante, porém, com algumas mudanças importantes:

1. Proceder com a marcação do dormente de forma a adequar o lado a deslocar e as distâncias com dormentes vizinhos;

2. Desguarnecer parcialmente o lastro no local a ser trabalhado;

3. Remover retensores (quando houver);

4. Soltar as fixações do dormente;

5. Deslocar na lateral o dormente com o auxílio de alavanca lisa até que o dormente fique perpendicular ao eixo da via e no local previamente definido;

6. Fazer o reaperto das fixações;

7. Recolocar e ajustar os retensores (quando houver);

8. Voltar o lastro até a face superior do dormente, fazer socaria e acerto do perfil;

9. Recolher material inservível.

Imagem: VP Aplicada (Fabio Steffler)

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Sobre o Artigo:

Esse material foi publicado por Lucas Evaristo

Lucas Evaristo é Logístico e Cientista de Dados de formação superior, especialista em Gestão de Projetos e Operação Ferroviária. Estudante de Engenharia Civil e apaixonado por Ferrovia.

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